Por : Silvia Bigoni
O artigo aqui apresentado é resultado de uma compilação de informações obtidas a partir de leituras técnicas e referências internacionais, com base principalmente nas publicações do IESNA (Illuminating Engineering Society of North America) e no livro “Manual de Práticas de Iluminação: Arte a Iluminar a Arte”, de Vítor Vajão.
Essa síntese tem como objetivo organizar e traduzir conceitos fundamentais de iluminação aplicados a espaços expositivos, considerando que a literatura especializada disponível no Brasil ainda é limitada sobre o tema. A proposta é contribuir para a formação técnica e a difusão do conhecimento em projetos de iluminação de obras de arte
Introdução: A luz como guardiã da arte
A iluminação de obras de arte é muito mais do que um recurso estético: é uma ferramenta de valorização, interpretação e preservação.
Museus, galerias e coleções privadas precisam equilibrar qualidade visual, conforto para o visitante e proteção do acervo.
Projetar luz para arte é, portanto, uma tarefa técnica e sensível, que requer conhecimento óptico, planejamento criterioso e respeito à natureza dos objetos expostos.
Entender a intenção do cliente e o valor das obras
O primeiro passo de um projeto de iluminação para arte é compreender o propósito da exposição:
- Preservação: quando o objetivo é conservar para futuras gerações, a exposição à luz deve ser limitada — tanto em intensidade quanto em tempo de exposição.
- Comercial ou decorativo: se as obras são substituíveis ou decorativas, é possível trabalhar com níveis de iluminância mais elevados.
Desafio do projetista: alinhar expectativas estéticas com critérios técnicos de conservação.
Sensibilidade à luz: conhecer para proteger
Cada objeto reage de forma diferente à luz. Por isso, as obras devem ser classificadas quanto à sensibilidade luminosa:
- 🔴 Alta sensibilidade: têxteis, papéis, pigmentos, fotografias;
- 🟡 Baixa sensibilidade: madeiras, metais, pedras;
- ⚪ Sem sensibilidade: réplicas, esculturas em materiais resistentes.
De acordo com a IES (Illuminating Engineering Society), obras de alta sensibilidade devem receber iluminância máxima de 50 lux, com rigoroso controle espectral e tempo reduzido de exposição.
Luz natural: beleza e risco
A luz natural é uma aliada poderosa para valorizar espaços expositivos, mas também uma fonte de radiação UV e calor que pode danificar obras.
Por isso, deve ser:
- Moderada com persianas, películas ou brises;
- Controlada com sensores e sistemas de blackout;
- Integrada ao projeto com cuidado técnico.
Diretrizes técnicas de iluminação para arte
Os níveis de iluminância devem seguir critérios específicos por ambiente:
| Ambiente | Finalidade | Iluminância Recomendada |
| Exposições e Galerias | Valorização e preservação | 50 a 200 lux (máximo conforme sensibilidade) |
| Circulação | Conforto e segurança | ≥ 10 lux |
| Laboratórios de Conservação | Trabalho técnico | Luz de tarefa com IRC 100 e controle de intensidade |
| Áreas Administrativas | Apoio e gestão | 300 a 500 lux |
Fonte: Illuminating Engineering Society, 2025
Sempre devemos considerar:
- IRC (Índice de Reprodução de Cor) ≥ 90;
- Ausência de UV e IR;
- Temperatura de cor intermediária (3000K a 4000K) ou quente (2.700 a 3000K), sempre dependendo dos elementos que serão valorizados;
- Controle por dimerização e sensores.
Iluminação de destaque: emoção e cuidado
A iluminação de destaque é essencial para criar pontos focais, guiar o olhar e construir narrativa visual. No entanto, o uso inadequado pode exceder os níveis seguros de luz e acelerar danos.
Recomendações IES:
- Destaque dramático: iluminação geral = 10% da de destaque;
- Destaque moderado: iluminação geral = 20% da de destaque;
- Sempre manter mínimo de 10 lux no piso para segurança.
Como Posicionar os Projetores para Valorizar Quadros e Pinturas
A iluminação de obras de arte requer cuidados técnicos e estéticos. Mais do que simplesmente iluminar, é preciso realçar as características visuais, destacar texturas e evitar reflexos que possam comprometer a percepção da obra.
Ao definir o posicionamento dos projetores, especialmente para obras de pequenas dimensões (com lados de até cerca de 1,20 m), recomenda-se o uso de projetores com feixe de luz circular. O resultado final depende diretamente da posição relativa da luz e das características da superfície da obra.
Diretrizes de Posicionamento
As paredes verticais são as superfícies mais utilizadas para exibir obras, funcionando como delimitadores do espaço e elementos expositivos. Nessas áreas, é comum encontrar:
- Pinturas, tapeçarias, fotografias e documentos;
- Textos explicativos que contextualizam o conteúdo;
- Acabamentos variados, do mais brilhante ao fosco;
- Molduras com ou sem vidros de proteção.
Essas obras podem variar em escala — pequenas, médias ou grandes — e serem apresentadas isoladas ou agrupadas, às vezes atingindo quase a altura do teto. A escolha da disposição influencia diretamente a percepção da luz e a legibilidade visual.
Controle da luz: ângulos, reflexos e conforto visual
Um dos principais desafios da iluminação expositiva é o controle dos brilhos e reflexos indesejados, especialmente em superfícies com vidro ou materiais brilhantes. Para evitar desconfortos visuais e sombras projetadas sobre as obras:
- A luz deve incidir com um ângulo aproximado de 30° em relação à superfície;
- Em obras de grande formato ou molduras expressivas, pode ser necessário aumentar o ângulo para 45°;
- Para visitantes em diferentes alturas (como cadeirantes), recomenda-se uma altura média de visão em torno de 1,30 m.

Fonte: Ângulo de incidência preferencial/ Adaptado por Silvia Bigoni – Curso Iluminação Residencial OSRAM, 2009.
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Superfícies Lisas
Obras com acabamento liso, como aquarelas, desenhos e fotografias, devem receber um feixe de luz ortogonal, ou seja, perpendicular à superfície. A luz frontal evita sombras e reflexos que distorcem a imagem e permite uma iluminação uniforme.
A imagem representa o posicionamento ortogonal do projetor em relação à obra, ideal para superfícies lisas, como aquarelas, fotografias e desenhos.
A delimitação do feixe deve abranger toda a área do quadro, destacando o conteúdo visual de forma equilibrada e fiel às cores originais.

Fonte: Elevação – Posicionamento da Fonte de Luz Ortogonal ao quadro – Grafite Julia de Castro Gil, 2025.

Fonte: Planta – Posicionamento da Fonte de Luz Ortogonal em relação ao quadro – Grafite Julia de Castro Gil, 2025.
Aplicação recomendada: Museus, galerias e espaços expositivos com obras bidimensionais e acabamento sem textura.
Atenção: Evite posicionar o quadro muito alto, pois isso pode gerar zonas de sombra e reduzir o contraste visual.
Superfícies Texturizadas ou Brilhantes
Em obras com textura (pinturas a óleo, relevos) ou acabamento brilhante, a projeção deve ser ligeiramente inclinada em relação à superfície
Por quê o uso do ângulo oblíquo?
- Realça volumes e texturas;
- Evita reflexos diretos;
- Cria um efeito de profundidade e expressão artística.

Fonte: Elevação – Posicionamento da Fonte de Luz com deslocamento OBLÍQUO em relação ao quadro – Grafite Julia de Castro Gil, 2025.

Fonte: Planta – Posicionamento da Fonte de Luz com deslocamento OBLÍQUO em relação ao quadro – Grafite Julia de Castro Gil, 2025.
Dica Técnica:
A luz deve vir na direção do fluxo de circulação do público, conduzindo o olhar do observador e destacando a composição visual.
Para obter o melhor resultado, posicione o projetor de modo que o feixe atinja o início da moldura, iluminando a obra de forma equilibrada e natural.
Resumo Explicativo
| Tipo de Superfície | Tipo de Iluminação | Objetivo | Cuidados |
| Lisa (aquarelas, fotos) | Luz perpendicular | Iluminar uniformemente | Evitar obras muito altas |
| Texturizada ou brilhante (óleo, relevos) | Luz inclinada | Valorizar textura e evitar reflexos | Ajustar direção conforme o público |
Obras Pequenas ou Agrupadas
Para peças de dimensões reduzidas ou agrupamentos de obras menores, o posicionamento do projetor deve garantir que o feixe de luz cubra integralmente a área a ser iluminada.
Em alguns casos, pode ser necessário utilizar mais de um projetor, de modo que as direções de luz sejam paralelas, evitando sombras indesejadas e assegurando uma harmonização luminosa, vide imagem abaixo

Fonte: Elevação – Posicionamento da Fonte de Luz com deslocamento OBLÍQUO em relação ao quadro/ Iluminação com feixes ovalados direcionados – Grafite Julia de Castro Gil, 2025.

Fonte: Planta – Posicionamento da Fonte de Luz com deslocamento OBLÍQUO em relação ao quadro/ Iluminação com feixes ovalados direcionados – Grafite Julia de Castro Gil, 2025.
Quando a obra for mais larga do que alta, o uso de um projetor com feixe muito aberto não é recomendado, pois isso pode causar uma mancha luminosa excessiva, com brilho desigual e perda de contraste.
Para corrigir, recomenda-se empregar lentes assimétricas ou projetores direcionais, ajustando a luz ao formato da obra e mantendo a uniformidade e a estética visual.
Outra alternativa é o uso de uma lente oval, que direciona a luz no sentido da maior dimensão do quadro. Assim, é possível manter um único projetor na posição ortogonal e reduzir a quantidade de equipamentos instalados.
Tecnologia e controle: aliados da preservação
Soluções modernas permitem otimizar consumo e proteger acervos:
- Sensores de presença/vacância: reduzem o tempo de exposição;
- Temporizadores e automação: controlam ciclos de iluminação;
- Sistemas de dimerização: ajustam intensidade conforme necessidade;
- Luminárias com filtros UV/IR e LEDs de alta qualidade.
A integração entre controle, fonte de luz e óptica é fundamental para precisão e segurança.
Preservar no escuro, celebrar com luz
Mesmo com todos os cuidados, a regra é clara:
“A melhor forma de conservar uma obra é no escuro.”
Mas a arte existe para ser vista e celebrada.
Cabe ao projetista de iluminação criar um projeto equilibrado, que permita experiências significativas sem comprometer a integridade das obras.

Fonte: ADOBE STOCK. Iluminação de galeria de arte moderna. Disponível em: [https://stock.adobe.com/632494293]. Acesso em: 06 out. 2025.
Conclusão: a luz como parte da curadoria
Projetar iluminação para arte é atuar como co-curador: a luz revela intenções, guia emoções e protege a memória.
Ela deve ser pensada com responsabilidade técnica, respeito à história e sensibilidade estética.
Na Lucchi, acreditamos que iluminar é mais do que clarear — é valorizar, educar e inspirar.
Oferecemos componentes ópticos, drivers, fontes e sistemas de controle que possibilitam projetos de alto desempenho e preservação do patrimônio cultural.
Luz que revela. Tecnologia que preserva.
Fonte da imagem principal: ADOBE STOCK. Iluminação de galeria de arte . Disponível em: [https://stock.adobe.com/1562180980]. Acesso em: 06 out. 2025.
Fonte Bibliográfica:
ILLUMINATING ENGINEERING SOCIETY. The Lighting Handbook: Reference and Application. 10th ed. New York: IES, 2011.
VAJÃO, Vítor. Manual de práticas de iluminação: arte a iluminar a arte. Lisboa: Editora Lidel , 2015.